Entrevista do Presidente da EBSERH, Dr Kleber Morais, para o Jornal Tribuna do Norte

1) Se fosse para eleger uma única prioridade, diante desse quadro de crise financeira no governo federal, qual seria?
Como se trata de uma instituição, de hospitais de alta complexidade, que lida com saúde, ensino e pesquisa, seria muito complicado ter uma possibilidade porque é uma estrutura complexa. Os nossos interesses principais, são de que os hospitais estejam abastecidos, não faltem insumos, que eles tenham recursos humanos preparados e de boa qualidade para atender essas três demandas: ensino, pesquisa e, sobretudo, o atendimento à saúde da população carente.
2) Hoje, o que pode ser considerada uma lacuna e foi motivo de críticas quando a Ebserh foi criada, era a falta uma diretoria de ensino e pesquisa. Ela está em processo de criação. Essa diretoria vai sair na sua gestão?
É preciso deixar claro que a Ebserh é um orgão 100% dependente do Tesouro Nacional e que 100% atende pacientes do SUS. Qual é a lacuna que existia pela falta dessa diretoria? Fazendo um retrato, para ficar claro o entendimento, cada hospital universitário é composto, na sua alta governança, por um superintendente e três gerentes: gerente de atenção à saúde, gerente administrativo e gerente de ensino e pesquisa. O gerente de atenção à saúde tem um diretor da Ebserh para ele ter um relacionamento, discutir os planos, as metas etc. O gerente administrativo, também diretores pertinentes às áreas de logística, administrativa, financeira e de TI [Tecnologia da Informação]. O gerente de ensino e pesquisa não tem uma diretoria, na Ebserh, para dialogar. Isso, por si só, já deixa essa gerência mais fragilizada. Com a presença dessa diretora, vai existir interlocução e vai estreitar mais ainda os laços de ensino e pesquisa nos hospitais com as universidades.
3) E o abastecimento dos hospitais, que o senhor considera um item prioritário: qual o diagnóstico?
Tive a oportunidade, em apenas seis meses de gestão, de visitar 31 dos 39 hospitais. In loco [no local], eu vi as dificuldades que esses hospitais têm e elas são duas: abastecimento de alguns insumos e de pessoal. Então, foi para elas que dirigimos nossa atenção. Estamos saindo de um orçamento, em 2016, de R$ 2,99 bilhões para um orçamento, em 2017, de R$ 3,610 bilhões, focados em poder contratar pessoas que fizeram os concursos públicos federais. Alguns já foram chamados em dezembro quando foram disponibilizadas 2.700 vagas. O restante de todos que fizeram os concursos e estão à espera, serão contratados ao longo deste ano e em 2018.
4) Esse desabastecimento é maior com remédios ou outros materiais?
Esse desabastecimento diz respeito aos materiais de uso geral. É material de limpeza, equipamentos médicos, material que permite ao hospitais o funcionamento na sua plenitude. Para isso, ele precisa de ter equipamentos, insumos e pessoal. É esse o foco da nossa gestão.
5) Sobre pessoal. A Ebserh administra hospitais que têm tanto servidores públicos e empregados públicos trabalhando no mesmo ambiente e, às vezes, com a atribuições parecidas. A forma de vínculo de cada um desses grupos com o poder público é diferente. Isso não causa problemas de gestão, em razão das diferenças nas vantagens funcionais e salariais?
Isso é um grande desafio. Porém, isso vai muito como o superintendente, o gerente administrativo vai exercer suas funções para conseguir equacionar essas diferenças. Porque, veja, tem vantagens para um tipo de servidor e também tem vantagens para o outro. A remuneração, a carga horária, a flexibilidade e uma série de coisas que não são as mesmas para os dois. Mas o importante, o que queremos passar, é que trabalhamos em um sistema de rede nacional. O sentimento que nossa gestão quer passar é que a preocupação não seja somente com um único hospital. Não é só a Maternidade Januário Cicco, aqui; mas, também, a Maternidade Assis Chateaubriand, em Fortaleza...Enfim, que a preocupação que devemos ter com um hospital em Santa Catarina seja a mesma que devemos ter com um hospital em Belém do Pará. É esse sentimento de rede que queremos passar. É isso que faz com que a potência dos hospitais universitários seja muito grande.
6) A gestão está tentando criar uma cultura organizacional?
Isso, chamando todos os superintendentes e gerentes para reuniões frequentes, para que todos tenham um alinhamento nas suas áreas de atuação e isso seja repassado de um hospital para outro. Nós temos levado, mais recentemente, durante as minhas visitas aos hospitais, superintendentes de hospitais próximos, para visita em conjunto. Isso faz com que ocorra uma interação e ela tem sido cada vez mais forte. Nós somos uma rede com 39 hospitais universitários. Para se ter uma ideia, a França tem 32 hospitais. Isso é um trabalho muito importante e, inclusive, estamos começando um trabalho de internacionalização da Ebserh, começando com esses hospitais franceses.
7) Uma outra questão, mais local. O governo estadual tem demostrado interesse em federalizar hospitais estaduais. O senhor acha isso possível e já foi procurado sobre isso?
Tive oportunidade de visitar o hospital de Currais Novos quanto o de Caicó, o Ana Bezerra, que já faz parte da nossa rede. E temos um outro hospital em Santa Cruz que pode vir para a Ebserh. Estive com o governador Robinson Faria e ele externou essa ideia, inclusive também abordou essa ideia quando da visita do ministro Mendonça Filho, aqui em Natal. E ele já esteve comigo na Ebserh, junto com a reitora [da UFRN], e falou desse desejo dos hospitais virem para a Ebserh.
8) Qual é o passo a passo para isso ocorrer?
Primeira coisa, o hospital precisa ser cedido à Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Isso que o governo do Estado está querendo, tem ocorrido no Brasil todo. Nós temos mais de 15 hospitais, em vários estados, querendo vir para a Ebserh. No Paraná, no Rio Grande do Sul, na Bahia, no Ceará. Feita a cessão, o reitor ou reitora leva essa solicitação de inclusão na rede para a Ebserh e nós vamos fazer um diagnóstico organizacional do hospital, tanto quanto a parte física, sobre equipamentos, quanto sobre pessoal para vermos a viabilidade desse hospital. O que é muito importante é ter faculdades de medicina próximas desses hospitais. É o caso de Caicó, de Currais Novos. Isso é uma tendência nacional, nós estamos avaliando todos os casos e a partir deste ano vamos fazer um estudo mais aprofundado.
9) Então, uma definição quanto essas transferência só lá para o fim do ano?
Não posso precisar se a resposta vai ser no curso de 2017, em função de todas essas nuances desse processo político, administrativo e financeiro no país. Nós esperamos que ocorra uma mudança no quadro geral, durante o ano, para o país e todos nós.
10) Nesse período sob a administração da Ebserh, os hospitais universitários conseguiram aumentar a oferta de serviços à população?
Sem dúvida. O aumento na oferta é enorme com a criação de novos serviços. Uma coisa muito importante, as pessoas que estão trabalhando nos hospitais são altamente capacitadas, elas fizeram concursos públicos. Nós temos uma mão de obra especializada. Gostaria, inclusive, de ressaltar aqui que o ministro [da Educação] Mendonça Filho tem tido um olhar muito especial para os hospitais universitários. A prova disso é que, no ano passado, nós fizemos concurso os últimos hospitais para os últimos hospitais que aderiram a rede Ebserh. Está faltando para o UniRio, o que será feito agora em janeiro. Conseguimos aumentar o orçamento substancialmente, o que vai permitir convocar todos os concursados.
Isso fará uma diferença muito grande para os hospitais. Vai nos dar condições de realizarmos as funções de um hospital universitário que são: ensinar, fazer pesquisa e atender à população carente com atendimento de qualidade.
11) Comparando os orçamentos de 2016 com 2017 a gente observa que houve um crescimento no custeio, mas, em compensação, vai ter uma redução de 25% nos investimentos.
Sim! Existe, realmente, uma redução no capital para investimentos. Passamos de R$ 128 milhões para R$ 96 milhões, mas ganhamos no custeio e nas verbas para pessoal, quase R$ 700 milhões a mais. É logico que se tivéssemos mais para investimentos, seria melhor. Mas, vamos fazer em função do que a gente tem.
12) Essa redução afeta os serviços oferecidos à população?
Não podemos ganhar tudo. Por isso, a minha tônica foi fazer com os hospitais funcione e, para isso, preciso do custeio e de pessoal. Eu até posso não ter, hoje, uma aparelho novo de ultrassonografia, mas o hospital está funcionando com gente e material. E essa preocupação com as pessoas é porque o concurso caduca.
Imagine, então, você que fez um concurso, passou e não é chamado. É a coisa mais frustrante que pode ter. Nossa preocupação, é levar a todos os hospitais, de norte a sul, de leste a oeste do país, o melhor atendimento. Seja aos estudantes, seja aos pacientes que nos procuram. Esses pacientes são aqueles que não têm outra escolha.
Fonte: AQUI

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