Conhecendo para se mobilizar 5: Como surgiu os Sindicatos dos Trabalhadores?
O
surgimento do sindicalismo está ligado ao contexto da industrialização e
consolidação do capitalismo na Europa a partir do século XVIII, quando
ocorreu a Revolução Industrial. A época foi marcada pelas péssimas
condições de vida e trabalho às quais estava submetida boa parte da população
europeia.
As
relações sociais nessa época atingiram uma enorme polarização, com a
sociedade dividida em duas grandes classes: a burguesia e o proletariado. É
nesse momento que fica evidente o antagonismo de interesses entre elas.
Com
o tempo, trabalhadores passaram a se organizar como meio de confrontar
empregadores e questionar a situação da época. Os primeiros indícios de união entre
trabalhadores aparecem com a quebra de máquinas fabris como forma de
resistência, movimento conhecido como ludismo. A motivação era a visão dos
trabalhadores de que estariam sendo substituídos pela maquinaria nas indústrias.
Mais
tarde, o Parlamento Inglês aprovou em 1824 uma lei estendendo a livre
associação aos operários, algo que antes era permitido somente às classes
sociais dominantes. Com isso, começam a ser criadas as trade unions,
organizações sindicais equivalentes aos atuais sindicatos.
As
trade unions passam então a negociar em nome do conjunto de
trabalhadores, unificando a luta na busca por maiores direitos e salários.
A ideia era evitar que os empregadores pudessem exercer pressão sobre
trabalhadores individualmente.
Outras
medidas das trade unions foram à fixação de salário para toda a
categoria, inclusive regulamentando-o em função do lucro (assim, o aumento
da produtividade industrial resultava também em aumento no salário dos
trabalhadores), criação de fundos de ajuda para trabalhadores em momentos de
dificuldades, além da reunião das categorias de uma região em uma só
federação.
No
ano de 1830, os operários ingleses formam a Associação Nacional para a Proteção
do Trabalho, que se constitui como uma central de todos os sindicatos.
COMO
SURGIRAM OS SINDICATOS NO BRASIL?
A
história de formação dos sindicatos no Brasil é influenciada pela migração
de trabalhadores vindos da Europa para trabalhar no país. No final do
século XIX, a economia brasileira sofre uma grande transformação, marcada
pela abolição da escravatura e a Proclamação da República.
Neste
momento, a economia brasileira deixa de se concentrar na produção de café e
cede espaço para as atividades manufatureiras, surgidas nos centros urbanos e
no litoral brasileiro. A abolição da escravidão, substituída pelo trabalho
assalariado, atrai um grande número de imigrantes vindos da Europa, que ao
chegar se depararam com uma sociedade que oferecia pouquíssimos direitos aos
trabalhadores, ainda marcada pelo sistema escravocrata.
Estes
novos trabalhadores possuíam experiência de trabalho assalariado e relativos
direitos trabalhistas já conquistados em seu antigo país. Assim, rapidamente
essas pessoas começaram a formar organizações.
As
primeiras formas de organização foram às sociedades de auxílio mútuo e de
socorro, que objetivavam auxiliar materialmente os
operários em períodos mais difíceis. Em seguida, são criadas as Uniões
Operárias, que com o advento da indústria passam a se organizar de acordo com
seus diferentes ramos de atividade. Surgia assim o movimento sindical no
Brasil.
O
SINDICALISMO NA ERA VARGAS
Por
certo tempo, o sindicalismo no Brasil era ditado por iniciativas dos
trabalhadores ou de grupos com perfil político-ideológico mais definido, como
os partidos políticos. De forma geral, essas iniciativas eram tomadas pelos
trabalhadores em sua heterogeneidade, concebido por uma inspiração autônoma.
Essa dinâmica muda com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder em 1930, quando
o presidente passa a submeter os sindicatos ao controle do Estado.
É com esse intuito que
Vargas cria o Ministério do Trabalho em 1930, em conjunto
com uma série de normas, como o decreto 19.770 de 1931, que estabelecia:
1) o controle financeiro do Ministério
do Trabalho sobre os recursos dos sindicatos, inclusive proibindo a
utilização destes recursos em períodos de greve;
2) a participação do Ministério nas
assembleias sindicais;
3) que atividades políticas e
ideológicas não poderiam existir por parte dos sindicatos;
4) veto à filiação de trabalhadores a
organizações sindicais internacionais;
5)
proibição da sindicalização dos funcionários públicos;
6) definição do sindicato como órgão de
colaboração e cooperação com o Estado;
7) participação limitada dos operários
estrangeiros nos sindicatos. Este era um ponto bastante problemático, já que
boa parte das lideranças sindicais ainda era de origem estrangeira;
8)
garantia de sindicato único por categoria, a chamada unicidade sindical.
Mas
não foi só isso. Em seu governo, Getúlio Vargas foi responsável por uma série
de outras medidas relacionadas à vida dos trabalhadores. Vamos lembrar que foi
no regime varguista a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e dos
institutos de Previdência Social.
Ainda
assim, o período do getulismo foi marcado por intensas greves de trabalhadores
e pela crescente luta sindical. Nos anos 40, o movimento volta a ganhar
forças, mesmo em meio a restritivas leis impostas por Vargas, que continuaram
vigentes mesmo após o fim do Estado Novo, em 1945. Mas é durante os anos 1960 que a luta sindical atinge seu ápice, com
imensas manifestações grevistas e a realização do III Congresso Sindical
Nacional, quando foi criado o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). No
campo, as lutas também se intensificaram com a criação das ligas camponesas,
onde aos poucos cresciam os sindicatos rurais.
Mas
o crescimento do movimento sindical é interrompido com o golpe militar em 1964,
quando o movimento dos trabalhadores volta a ser perseguido e a existir sob
total controle do Estado. Após isso, o
sindicalismo volta a ganhar forças somente no fim dos anos 1970, quando retomam
as greves em diversas fábricas no estado de São Paulo.
A motivação das greves
foi o movimento pela reposição dos 31%: o governo até
então vinha mascarando os índices de inflação, o que gerou grandes perdas
salariais. A manobra foi denunciada pelo Banco Mundial em 1977, o que despertou
a revolta nos trabalhadores.
A
jornada de luta nos anos 1970 inseriu o movimento operário no cenário político,
econômico e social brasileiro, levando a criação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT), que passaram a
organizar diversas greves gerais nos anos 1980 e desempenharam importante papel
em movimentos políticos como as Diretas Já.
OS
SINDICATOS BRASILEIROS APÓS A REDEMOCRATIZAÇÃO
A Constituição Federal
de 1988, criada no período da redemocratização, trouxe mais liberdade ao movimento
sindical, retirando regras como a necessidade de autorização
do Ministério do Trabalho para funcionamento de um sindicato e possibilitando a
sindicalização dos servidores públicos.
Contudo,
muitas das heranças do período varguista continuaram a aparecer, como o imposto
obrigatório e a unicidade sindical. Essas estruturas continuam em debate até
hoje, já que muitos questionam se elas beneficiam os trabalhadores e se haveria
necessidade de uma reforma sindical. Hoje, existem mais de 17 mil sindicatos
no país, e o ritmo de criação de novos sindicatos é forte. Entre 2005 e
2013, surgiram mais de 2 mil deles, segundo o jornal O Globo. A grande quantidade
leva a críticas sobre o sindicalismo brasileiro hoje, pois boa parte dos
sindicatos seria, na visão de críticos, não representativa – ou pior, apenas
mais uma forma de receber dinheiro público.
O
QUE SÃO SINDICATOS?
Os
sindicatos exercem importante papel de representação em diversos âmbitos da
sociedade, para garantir os direitos de seus associados. Suas responsabilidades
são diversas e existem diferentes formas de associação dentro da estrutura
sindical.
Um
sindicato é uma forma de associação permanente entre pessoas físicas ou
jurídicas que exerçam função em um mesmo ramo de negócio. Essa associação é
criada com o papel de defender os interesses em comum de seus membros.
Entre as principais
responsabilidades dos sindicatos estão à negociação de acordos coletivos, intervenção
legal em ações judiciais, orientação sobre questões trabalhistas, participação
na elaboração da legislação do trabalho, recebimento e encaminhamento de
denúncias trabalhistas e preocupação com a condição social do trabalhador.
Os
sindicatos podem também criar diversos projetos que visem à melhoria de vida de
seus associados, como por exemplo, exigindo melhores condições de trabalho,
organizando eventos de formação sobre melhores condições de saúde e segurança
no trabalho, entre outros.
A
ESTRUTURA DO SISTEMA SINDICAL BRASILEIRO
O
sistema sindical brasileiro possui uma organização bastante segmentada, sendo
dividido em diversos níveis hierárquicos com funções que vão desde a proteção
dos trabalhadores até a promoção dos setores econômicos do país. Essa hierarquia se divide em Sindicatos, federações,
Confederações Nacionais e Centrais Sindicais. Entenda melhor a diferença
entre elas:
1) Os sindicatos protegem os
direitos dos trabalhadores de uma categoria, negociando
diretamente com os empregadores. Seus
interesses dizem respeito sobretudo a defesa de
direitos e negociação salarial;
2) As Federações são associações
criadas para defender interesses comuns aos sindicatos que as compõem. Elas
podem ser regionais ou nacionais e só podem ser criadas se reunirem o mínimo
de cinco sindicatos de um mesmo setor;
3) Já as Confederações Nacionais
constituem entidade formada pela reunião de pelo menos três Federações
que representem um mesmo segmento. Seu papel vai desde a atuação em articulações
políticas até a criação de projetos que promovam o desenvolvimento da sua área de
atuação. Exemplos são a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a
Confederação Nacional do Comércio (CNC);
4)
Por último, existem ainda as Centrais Sindicais, com atuação similar à
das Federações, mas representando os interesses de Sindicatos de diferentes
segmentos.
Outros
pontos do sistema sindical é a diferença entre os sindicatos patronais e
sindicatos profissionais. O primeiro é uma associação representante da
categoria econômica, ou seja, das empresas e dos empregadores. Já o sindicato
profissional representa os interesses dos trabalhadores de determinada
categoria profissional.
O
PAPEL POLÍTICO DOS SINDICATOS
Atualmente,
o Brasil conta com 16.517 entidades sindicais com cadastro ativo no Cadastro Nacional
de Entidades Sindicais. Desse total, 11.327 são sindicatos profissionais,
enquanto os outros 5.190 são sindicatos patronais. No Reino Unido, por exemplo,
o número total de sindicatos é de 168, enquanto na Argentina existem 100.
Com
tantos sindicatos no Brasil, é difícil não pensar no papel que essas
representações desempenham em todos os âmbitos da sociedade. Ainda que sua
principal atribuição seja representar seus associados nos mais diversos
interesses trabalhistas, a atuação dos sindicatos não se limita a isso.
Além
dos interesses coletivos no âmbito profissional, as entidades sindicais também
se preocupam com a condição social dos trabalhadores enquanto cidadãos,
direcionando parte do seu trabalho também para questões extra profissionais.
Depois
de passar a maior parte dos anos 1990 enfraquecido, com poucas mobilizações
sociais, o movimento sindical voltou a crescer a partir dos anos 2000,
especialmente a partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, entre
2007 e 2010.
Especialistas
apontam inúmeros fatores para essa retomada de crescimento, como a conjuntura econômica
favorável e a boa interlocução com o governo federal. Apesar dos motivos, não
se pode negar que os sindicatos retomaram parte da importância política que
possuíam em períodos anteriores.
Para
os líderes do movimento sindical, o maior número de greves, paralisações,
conquistas salariais e abertura de espaços institucionais mostra como o
movimento tem recuperado o protagonismo de tempos passados, como no período
do regime militar.
Concorda
com isso o cientista político e consultor sindical João Guilherme Vargas Netto,
que afirma que o sindicalismo brasileiro tem adotado pautas amplas, como a
luta pela mudança da política econômica e a campanha por mais recursos para a
educação.
Mas
nem todos os especialistas pensam da mesma forma. Para o pesquisador do Centro
de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (CESIT) do Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), José Dari Krein, ainda que o
sindicalismo tenha crescido em número de mobilizações como greves e passeatas,
sua importância não se efetivou em pautas mais gerais.
Para
o especialista, o movimento sindical brasileiro tem mais força para vetar
certas medidas, principalmente em função da sua interlocução com o governo, do
que poder para impor uma agenda propositiva ao país.
Nas
palavras de Krein, “Os sindicatos obtiveram conquistas concretas, mas suas
mobilizações gerais foram tímidas. Não conseguem mobilizar a sociedade e o
Congresso Nacional. Não têm a capacidade de pautar uma agenda mais favorável ao
trabalhador, mesmo com um governo mais próximo. Isso é uma evidência da perda
de protagonismo”.
Nos
debates atuais, por exemplo, o papel do sindicato tem aparecido frequentemente
em meio às discussões sobre a reforma trabalhista.
FONTE: Politize
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