O discurso de defesa da REFORMA DA PREVIDÊNCIA em questão
Nota Técnica do DIEESE n.º 190 - Fevereiro 2018 – Considerações Finais
O
governo, seus aliados e os defensores na sociedade da Reforma da Previdência
desenvolveram um discurso aparentemente bem alinhavado a fim de angariar apoio
às mudanças nas regras da Previdência Pública. O discurso, entretanto, não tem
surtido o efeito esperado, seja porque a argumentação é falha, seja porque o
movimento sindical e outras organizações da sociedade civil têm trabalhado
intensamente para a conscientização da população sobre os reais impactos da
Reforma - ou até porque a população desconfia da honestidade do discurso ou dos
interesses que o motivam.
Neste
momento, início de fevereiro de 2018, surgem diversas evidências de que o
governo enfrenta grandes dificuldades para a aprovação da Reforma, apesar da adesão da imprensa corporativa e dos empresários e
instituições financeiras, que têm considerável interesse nas mudanças.
Muito provavelmente, essa dificuldade deve-se a um conjunto de fatores
combinados, entre eles, as eleições “quase gerais” de outubro próximo (para a
presidência, Câmara, Senado, governo dos estados e Assembleias); as intensas e
frequentes mobilizações contrárias à Reforma, em especial aquelas do primeiro
semestre de 2017, que culminaram no dia de Greve Geral; a pressão sobre
deputados e senadores em suas bases locais; o impacto amplo da Reforma na
população; o sentimento de injustiça e de mudança abrupta de regras - com o
jogo ainda em andamento; e as trocas de mensagens, posts, piadas, críticas e
debates nas redes sociais. Em particular, parece ter sido fatal a combinação de
sentimento de injustiça, de perda de direitos e de impacto generalizado da
Reforma sobre a população, favorecendo a mobilização popular, com a busca de
reeleição por parlamentares em um contexto de dificuldades políticas, decorrente
do fim do financiamento empresarial, da economia quase parada e da imagem
desgastada dos parlamentares.
No
entanto, mesmo que o governo não consiga aprovar a Reforma da Previdência este
ano, o tema não vai sair da agenda. Uma forte coalizão
articulada em torno de grandes interesses insistirá nesse tema, com a
finalidade de incentivar a contratação e privatização da Previdência Pública,
reduzir as políticas públicas, intensificar a dinâmica da acumulação financeira
e restringir a função do Estado na redução das desigualdades e na promoção do
desenvolvimento.
Outro
motivo para a permanência desse tema na pauta decorre da pressão sobre as
finanças públicas. O ingresso de contingentes crescentes de trabalhadores e
trabalhadoras em gozo de benefícios e o aumento da expectativa de vida das
pessoas que terão direito a recebê-los indicam que as despesas previdenciárias
irão aumentar. Essa pressão de financiamento se intensificará, caso a sociedade
brasileira decida que o poder aquisitivo do salário mínimo deve voltar a
crescer e, ao mesmo tempo, continuar sendo parâmetro para o piso dos
benefícios, como é hoje.
Diante
dessa disputa, três tarefas se impõem aos que defendem a Previdência pública
e se opõem ao aumento das desigualdades e da concentração de renda. A primeira
é rever, revogar ou, no mínimo, flexibilizar as restrições ao
crescimento das despesas primárias da União, ou seja, é necessário repensar
o “teto dos gastos”. Sem a contenção da evolução das despesas previdenciárias,
dificilmente o próximo presidente ou a próxima presidenta conseguirá obedecer à
regra constitucional que impede o crescimento real das despesas primárias. Com
isso, poderá ser refém do Congresso Nacional pela ameaça de novo impedimento ou
poderá, mesmo a contragosto, tornar-se defensor da Reforma da Previdência.
Em
segundo lugar, faz-se necessário debater a Previdência, a Seguridade Social
e o seu financiamento de longo prazo. E, por fim, com a possibilidade de
desproteção previdenciária de grandes contingentes de trabalhadores em função
da Reforma Trabalhista, deve-se discutir medidas para revogação, total
ou parcial, dessa Reforma e/ou novas formas de inclusão previdenciária,
que conceda garantias e segurança ao contingente de trabalhadores e
trabalhadoras que ficaram sujeitos às formas desprotegidas de contratação.
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a Nota na íntegra: AQUI
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