Auditoria 2015 do TCU sobre a EBSERH - Melhorias significativas nos HUF

Processo do Tribunal de Contas da União - TCU nº TC 032.519/2014-1
Grupo I – Classe de Assunto: Relatório de Auditoria Operacional
 SUMÁRIO:
AUDITORIA DE NATUREZA OPERACIONAL COM O OBJETIVO DE AVALIAR AS AÇÕES DA EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES (EBSERH) VOLTADAS PARA MELHORIA DA GESTÃO E DA INFRAESTRUTURA DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS (HUF).
.
CONSTATAÇÃO DOS RESULTADOS POSITIVOS ADVINDOS DA ATUAÇÃO DA EBSERH NO APRIMORAMENTO DA GESTÃO HOSPITALAR E NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE OFERTADOS.

NOVAS DETERMINAÇÕES DIRIGIDAS ÀS UNIVERSIDADES ÀS QUAIS SE VINCULAM HOSPITAIS QUE NÃO ADOTARAM MEDIDAS PARA CORREÇÃO DO PROBLEMA.

1 – RELATÓRIO =
...
VIII. Conclusão

334. Este relatório trata de auditoria de natureza operacional realizada na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) em que se buscou avaliar as ações desta empresa voltadas para a melhoria da gestão e infraestrutura dos Hospitais Universitários Federais, bem como avaliar a substituição dos terceirizados que atuam em desacordo com Decreto 2.271/1997.
335. A auditoria também envolveu os hospitais universitários, tanto aqueles que já aderiram à gestão da empresa ou manifestaram interesse em fazê-lo (39 HUF), quanto aqueles que ainda não manifestaram interesse em aderir à Ebserh (nove HUF).
336. Quatro questões de auditoria orientaram a execução da fiscalização:
a primeira relacionada as melhorias na gestão dos HUF proporcionadas pela Ebserh;
a segunda sobre as melhorias na infraestrutura física e tecnológica desses hospitais;
a terceira sobre a atuação da Ebserh no processo de contratualização dos hospitais com o SUS; e,
a quarta pergunta sobre a questão do quadro de pessoal dos HUF, abrangendo o problema da substituição dos terceirizados irregulares que atuam nos HUF.
337. A respeito das melhorias na gestão dos HUF, fruto da atuação da Ebserh, foram identificadas ações positivas,
tais como:
projeto realizado em parceria com o Hospital Sírio Libanês sobre o modelo de relacionamento entre a Ebserh Sede e hospitais filiados; implantação e disseminação do uso Aplicativo de Gestão Hospitalar Universitário (AGHU), que tem proporcionado padronização de procedimentos administrativos e hospitalares, dando maior capacidade para a Ebserh de gerir sua rede e sanar problemas comuns enfrentados por suas filiais; e o projeto “Cadernos de Processos e Tecnologia da Informação”, realizada pela Diretoria de Gestão de Processos e Tecnologia da Informação da Ebserh, cujo objetivo é mapear boas práticas e disseminá-las para toda rede. Tais ações demonstram a preocupação da Ebserh em melhorar a gestão dos HUF e aprimorar seu próprio modelo de gestão.
338. Com relação às melhorias na infraestrutura física e tecnológica, também foram identificadas ações positivas da Ebserh, cabendo ressaltar os benefícios trazidos com o processo de aquisições centralizadas a cargo da Ebserh Sede, que tem proporcionado melhorias nos hospitais no que se refere a equipamentos hospitalares.
339. No processo de contratualização dos HUF com o SUS também foram identificadas ações positivas protagonizadas pela Ebserh em sua rede de filiados. Conforme foi relatado à equipe nas entrevistas com os gestores dos hospitais visitados, a Ebserh Sede atua oferecendo apoio e cooperação técnica aos HUF no desenvolvimento do respectivo instrumento contratual, participa de agendas realizadas com os dirigentes do hospital e/ou os gestores do SUS, participa da análise e disponibilização de informações estratégicas afetas a contratualização, da mediação de conflitos, dentre outras formas de atuação. Cabe destacar que a contratualização do hospital com o SUS é iniciativa precípua do gestor do SUS, uma vez que ele é o contratante dos serviços do hospital, razão pela qual as iniciativas tomadas pela Ebserh no sentido de aprimorar esse processo são de suma relevância para o bom funcionamento do HUF e da rede local em que ele está inserido.
340. Cabe citar, ainda, que a Ebserh está desenvolvendo um sistema de gestão dos contratos com o SUS, que conterá um módulo de monitoramento e avaliação do cumprimento de metas e indicadores estabelecidos nos documentos de contratualização com o SUS dos hospitais a ela filiados.
341. Em relação à substituição de terceirizados, verificou-se que, no âmbito dos HUF filiados à Ebserh, embora tenham sido contratados 11.809 profissionais mediante concurso público, o que, praticamente, se equivale ao número de terceirizados irregulares que atuavam nesses hospitais antes da adesão à empresa, apenas 31% dos terceirizados que estavam em situação irregular, ou seja, em desacordo com o Decreto 2.271/1997, foram demitidos. Todavia, alguns hospitais filiados se destacam em virtude do estágio avançado de substituição, a exemplo do HUB-UnB, HUCAMUFES, HUOL-UFRN, HUJM-UFMT, HUSM-UFSM e HULW-UFPB. Importante ressaltar que, com relação à substituição de terceirizados irregulares nos HUF não filiados, praticamente não há qualquer ação voltada para tal fim, conforme tratado em um dos achados de auditoria.
342. Em que pesem tenham sido identificadas ações por parte da Ebserh que podem ser
consideradas positivas, conforme relatado nos parágrafos anteriores, nove achados de auditoria foram identificados na execução da fiscalização, são eles:
a. Hospitais Universitários Federais sem instrumentos formais de contratualização válidos e atuais, o que resulta na utilização de informações desatualizadas na gestão do SUS;
b. Ausência de constituição ou inadequação da atuação da Comissão de Acompanhamento da Contratualização (CAC), o que afeta o acompanhamento e avaliação dos resultados da prestação dos serviços de saúde;
c. Capacidade ociosa do HUF em virtude de o encaminhamento de pacientes estar abaixo da capacidade ofertada, bem como pelo absenteísmo de paciente;
d. Ausência de transparência dos instrumentos de contratualização e repasses aos hospitais que compõem as redes de atenção à saúde;
e. Manutenção de terceirizados em situação irregular no quadro de funcionários de hospitais filiados à Ebserh, uma vez que se identificou doze hospitais, dos 23 filiados há mais de um ano, em que a substituição desses funcionários foi abaixo de 50% do quantitativo existente antes da adesão à empresa;
f. Ausência de ações para a substituição de terceirizados irregulares na maioria dos HUF não filiados à Ebserh;
g. Servidores estatutários (RJU) vinculados à Universidade, e atuantes nos HUF, não se encontram formalmente cedidos à Ebserh;
h. Existência de mais de uma Unidade Gestora atuando dentro de um mesmo HUF; e,
i. Delegação pelo MEC de atribuições à Ebserh que extrapolam as competências previstas na lei que autorizou sua criação (Lei 12.550/2011).
343. Sobre os achados listados acima, cabe destacar que nem todos eles dizem respeito exclusivamente à atuação da Ebserh, como os dois primeiros achados, que foram identificados não somente em hospitais filiados à empresa, mas também naqueles não filiados, também o achado referente a transparência dos instrumentos de contratualização pelas secretarias de saúde municipal/estadual e, ainda, o achado relativo à substituição de terceirizados irregulares nos HUF não filiados à Ebserh, que não guarda relação com a atuação da Ebserh.
344. As propostas de encaminhamento e as análises detalhadas de cada um dos achados
listados acima se encontram disponíveis nos capítulos III a V deste relatório. Ademais, cumpre observar o tratado no capítulo VI – “Outras informações importantes”, que apresenta informações sobre o compartilhamento do financiamento dos HUF entre o MEC e o MS, que não tem obedecido as regras estabelecidas no Decreto 7.082/2010, e, ainda, informações relativas ao funcionamento do Hospital Universitário do Piauí (HUPI), em atendimento ao item 9.3 do Acórdão 3.424/2015-TCU- 1ª Câmara.
345. Diante do exposto acima, conclui-se que, de uma maneira geral, a atuação da Ebserh tem proporcionado melhorias significativas nos HUF a ela filiados, sobretudo no que se refere à gestão desses hospitais. Entretanto, foram identificadas oportunidades de melhoria, tanto na atuação da Ebserh, quanto no que se refere aos HUF não filiados, conforme análises efetuadas nos capítulos que compõem este relatório.

2 – VOTO =

A GESTÃO EBSERH E OS RESULTADOS ENCONTRADOS

40. A criação da Ebserh deu-se em virtude da situação de profunda crise em que se encontravam os HUFs no Brasil, situação que já era do conhecimento do TCU, e que ia muito além das terceirizações irregulares. Consoante informações prestadas pelo próprio MEC no Ofício 1054/2015 da Secretaria Executiva (peça 227, p. 3), os problemas englobavam:
infraestrutura física em ruínas,
dívidas crescentes,
leitos fechados,
equipamentos obsoletos,
ausência de crédito junto aos fornecedores,
gestão desarticulada e vulnerável,
déficit de pessoal técnico e administrativo,
dívidas com empregados,
atrasos nos impostos,
contratos vencidos,
UTIs que não atendiam às exigências da vigilância sanitária,
ausência de alvará sanitário em alguns hospitais,
centros cirúrgicos sucateados,
contratos de manutenção precários,
ausência de controle de ponto dos funcionários,
diferentes regimes de trabalho em setores semelhantes,
controle inadequado nos exames laboratoriais e atendimentos ambulatoriais
e, ainda, uma crítica ausência de sistemas de TI.
41. Assim, para além de resolver a questão dos terceirizados irregulares, foi conferida à Ebserh a missão de modernizar a gestão dos HUF, com vistas a preservar e reforçar o papel estratégico desempenhado por essas instituições no tocante à formação de profissionais na área de saúde e à prestação de assistência à saúde da população, integralmente no âmbito do SUS. Além disso, a empresa também assumiu a responsabilidade pela gestão do Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf).
42. Nesse sentido, considerando que a implantação de um novo modelo de gestão não é algo trivial e, a despeito de ainda existirem oportunidades de melhoria, é relevante destacar que a conclusão alcançada pela equipe de auditoria é de que a atuação da Ebserh contribuiu de maneira significativamente positiva para o aprimoramento da gestão e da prestação dos serviços de saúde nos HUFs. Vale registrar os seguintes resultados positivos destacados no relatório:
a) criação do projeto “Modelo de Relacionamento Ebserh e Hospitais Universitários Federais”, realizado em parceria com o Hospital Sírio Libanês, com o objetivo de apoiar a entidade na definição das diretrizes de relacionamento com a rede de HUF e, consequentemente, no fortalecimento operacional de suas diretorias;
b) adoção do Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) como padrão para todos os HUF da rede Ebserh, padronizando práticas assistenciais e administrativas dos hospitais, permitindo a criação de indicadores nacionais e, consequentemente, facilitando a formulação de programas voltados para a melhoria da gestão dos HUF;
c) realização de aquisições centralizadas, incluindo compras de materiais e equipamentos, tendo sido realizados seis pregões para aquisição de equipamentos médico-hospitalares de maior relevância no período de 2013 a 2014, consoante demonstrado na Tabela 9 do relatório de auditoria;
d) criação do projeto “Caderno de Processos e Práticas das Filiais Ebserh”, visando mapear boas práticas em processos de trabalho relacionados a ambulatório, internação, farmácia, suprimentos, gestão de pessoas, gestão de obras e engenharia clínica;
e) realização de melhorias da infraestrutura física dos hospitais, tendo 245 obras cadastradas em seus sistemas, distribuídas em 35 hospitais, sendo que 106 já foram concluídas, 97 estão sendo executadas e 42 encontram-se paralisadas;
f) desenvolvimento ainda não concluído de sistema de gestão dos contratos com o SUS, que conterá um módulo de monitoramento e avaliação do cumprimento de metas e indicadores estabelecidos nos documentos de contratualização firmados com os hospitais;
...
50. Ademais, entendo que a decisão de governo de delegar à Ebserh as competências necessárias para a coordenação dos HUF e do Rehuf não cabe ser questionada pelo TCU, em especial porque a atuação da Ebserh tem provocado significativas melhorias no quadro crítico em que os hospitais se encontravam, e retornar à situação anterior, em que a coordenação destes hospitais era feita pelo MEC de maneira ineficiente, não se mostra uma alternativa adequada. Ademais, não vislumbro afronta a nenhuma regra legal específica.
Data da Sessão: 18 de novembro de 2015
  (Assinado Eletronicamente)
AROLDO CEDRAZ
Presidente

(Assinado Eletronicamente)
BRUNO DANTAS
Relator

Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Procurador-Geral, em exercício

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