Manifesto Público da Sociedade Brasileira de Imunologia a favor do isolamento social
MANIFESTO PÚBLICO a favor do isolamento social como forma
de prevenção e contenção da COVID-19
SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA (SBI)
– 25 de março de 2020
Existe um novo vírus em território
brasileiro sobre o qual há muito a se conhecer para que soluções de saúde sejam
encontradas. Contudo, com relação ao Novo Coronavírus, há algo que já é um
consenso entre imunologistas, epidemiologistas, infectologistas, virologistas e
todas as demais áreas científicas que, ano após ano, combatem epidemias das
mais variadas: o isolamento social como forma de
prevenção, contenção e auxílio à mitigação.
Hoje, mesmo o Reino Unido que, com
seu sistema hospitalar de excelência, havia escolhido no início da pandemia
seguir em padrão científico diferente – o da exposição dos cidadãos ao vírus –,
já adotou medidas mais duras tendo o isolamento social como um marco de ação.
A COVID-19 não é um resfriado,
mesmo que muitos infectados apresentem sintomas similares. Ela é uma doença que
em sua forma mais grave leva o infectado a um quadro agudo de pneumonia, que
hoje já resultou em mais de 16 mil mortes e aproximadamente 400 mil casos
confirmados no mundo todo. Esses são números subestimados, pois, inclusive no
Brasil, grande parte dos casos suspeitos não está sendo testada.
É uma doença que infecta a todos:
de crianças a idosos. Sobre a orientação internacional de manter as escolas sem
aulas durante a fase de contenção, isso se dá pelas crianças, quando
acometidas, geralmente não apresentarem sintomas, o que pode facilitar a rápida
disseminação do vírus.
A COVID-19 possui um grupo de risco
para o desenvolvimento de sua forma mais grave, mas não se restringe a ele.
Dentro do grupo de risco estão pessoas idosas e já com a saúde fragilizada,
como homens e mulheres com cardiopatias, diabetes e doenças pulmonares. Em um
país como o Brasil isso representa milhões de pessoas.
O pronunciamento feito nesta
terça-feira, 24 de março, em cadeia nacional, pelo Presidente da República, vai
contra todas as orientações das sociedades científicas e da Organização Mundial
de Saúde (OMS), especialmente em um momento em que o país já apresenta transmissão
comunitária sustentada.
Por certo, todos nós entendemos o
impacto que medidas de isolamento social podem causar aos mais diversos
setores. Afinal, somos parte de uma mesma sociedade que está vivenciando e
vivenciará os impactos da pandemia. Contudo, é preciso destacar aqui alguns
pontos:
· O
estímulo a atividades que podem ser feitas "home office" mantém
pessoas produtivas, ativas e, sobretudo, seguras. Reduzir
o número de pessoas na rua neste momento é uma ação preventiva e também de
contenção que fará com que a COVID-19 no Brasil seja controlada de forma mais
rápida;
· Uma
sociedade doente em um mesmo período pode produzir por um tempo, mas não por
muito tempo;
· O
tratamento de doentes em ambulatórios e Unidades de Tratamento Intensivo
(UTIs), bem como a compra de produtos destinados ao combate e cura dentro de um
sistema hospitalar que pode vir a ficar esgotado – como previsão feita pelo
próprio Ministério da Saúde – também é uma questão financeira;
· Por
ser um vírus de fácil transmissão, os recursos humanos que hoje atuam em
ambulatórios e hospitais também estão propícios a se infectar – e a ausência de
profissionais aptos a lidar a com a pandemia nos hospitais também é uma questão
financeira.
A Sociedade Brasileira de
Imunologia acredita veementemente que prevenir e conter o avanço da doença, bem
como investir em ciência e tecnologia são ações menos onerosas, mais efetivas e
humanitárias. Portanto, ela vem por meio deste manifesto reforçar a necessidade
de isolamento social.
A SBI Imuno também reafirma o
comprometimento dos imunologistas brasileiros no combate ao Novo Coronavírus. Nossa
comunidade está em força-tarefa para encontrar soluções de saúde de forma
rápida e segura; atuando arduamente, mesmo em um momento em que o Governo
Federal continua realizando cortes, como os determinados com a Portaria
34/2020.
Este é o momento de termos uma
sociedade unida, que receba direcionamentos claros e alinhados do que deve ser
feito. As orientações devem ser realizadas a partir de apontamentos científicos
e em afinidade entre todas as áreas para que as pessoas e instituições possam
se organizar e fazer o planejamento essencial para o período. A COVID-19 é um
caso de Saúde Pública. Por que não ouvir os que trabalham na área diariamente?
Ricardo
Gazzinelli
Doutor em Imunologia
Presidente da Sociedade
Brasileira de Imunologia
FONTE: AQUI
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